Segue uma resposta bíblico-teológica e apologética, fundamentada nos PDFs utilizados ao longo da conversa — Desconstruindo o Calvinismo (Hutson Smelley), Contra o Calvinismo (Roger Olson), Que Amor é Este? (Dave Hunt), O Outro Lado do Calvinismo (Laurence M. Vance) e Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia (Norman Geisler & Thomas Howe) — esclarecendo a objeção clássica:
Introdução
Uma das objeções mais comuns contra a doutrina da graça resistível é a seguinte:
“Se o homem pode resistir ou aceitar a graça, então a salvação depende da obra humana.”
Essa crítica é frequente em sistemas calvinistas, que identificam graça eficaz com graça irresistível. Contudo, conforme demonstram os autores analisados, essa objeção parte de uma falsa dicotomia e não corresponde ao ensino bíblico.
A pergunta correta não é se o homem participa da salvação, mas como ele participa.
1. A falsa dicotomia: graça irresistível ou salvação por obras
Roger Olson demonstra que o debate costuma ser mal formulado. Ele observa que muitos pressupõem apenas duas opções:
- Deus salva irresistivelmente (monergismo determinista);
- O homem salva a si mesmo por obras.
Essa dicotomia é biblicamente falsa .
A Bíblia apresenta uma terceira via:
salvação inteiramente pela graça, recebida pela fé, que pode ser aceita ou resistida.
2. Receber não é produzir: fé não é obra meritória
A Escritura distingue claramente entre:
- obra (ergon),
- fé (pistis),
- receber (dechomai).
Norman Geisler explica que receber um dom não transforma o dom em salário. Aceitar um presente não é produzi-lo nem merecê-lo .
Efésios 2.8–9 afirma:
“pela graça sois salvos, mediante a fé… não vem das obras.”
A fé não é apresentada como:
- mérito,
- pagamento,
- contribuição causal,
mas como meio de recepção.
3. Resistir à graça não equivale a salvar-se
Hutson Smelley destaca que resistibilidade diz respeito à possibilidade de rejeição, não à capacidade de gerar salvação .
A graça resistível afirma:
- Deus toma a iniciativa;
- Deus oferece a salvação;
- Deus capacita para responder;
- o homem pode dizer “sim” ou “não”.
Dizer “sim”:
- não cria a graça;
- não aumenta a graça;
- não obriga Deus;
- não transforma o homem em coautor da redenção.
4. O erro lógico do determinismo
Dave Hunt aponta um erro lógico recorrente:
confundir condição com causa eficiente .
Exemplo:
- a fé é condição para a salvação;
- a graça é a causa da salvação.
Se condições fossem causas:
- abrir a boca seria “obra” que produz o alimento;
- respirar seria “obra” que cria o oxigênio.
A Bíblia nunca trata a fé como obra meritória, mas como resposta à graça.
5. “Cooperando com Deus” não é salvação pelas obras
Textos como 2 Coríntios 6.1 (“cooperando com ele”) são frequentemente rejeitados por sistemas deterministas.
Laurence Vance demonstra que cooperação bíblica não é sinergismo meritório, mas responsabilidade relacional .
O homem coopera:
- não para produzir a salvação,
- mas para não frustrar a graça recebida.
6. A graça resistível preserva o caráter de Deus
Os PDFs enfatizam que a graça irresistível:
- transforma o amor em coerção;
- elimina responsabilidade real;
- cria sérios problemas morais.
Roger Olson afirma que amor que não pode ser rejeitado não é amor bíblico, mas imposição .
Já a graça resistível:
- preserva o amor genuíno;
- fundamenta o chamado sincero ao arrependimento;
- sustenta a justiça do juízo final.
7. O testemunho bíblico é inequívoco
A Bíblia ensina simultaneamente que:
- a salvação é totalmente pela graça;
- o homem pode resistir a Deus (At 7.51);
- a graça pode ser recebida em vão (2Co 6.1);
- alguns caem da graça (Gl 5.4).
Smelley observa que negar a resistibilidade da graça exige neutralizar dezenas de advertências bíblicas .
Conclusão
Não. Se a graça é resistível, a salvação não é por obras.
A graça resistível ensina que:
- Deus salva;
- Cristo redime;
- o Espírito convence;
- o homem responde.
A fé não é obra,
a aceitação não é mérito,
a cooperação não é pagamento.
A salvação continua sendo:
totalmente pela graça,
inteiramente em Cristo,
recebida pela fé,
sem obras.
O que o arminianismo rejeita não é a graça soberana,
mas o determinismo que transforma a graça em coerção.
Entre:
- uma graça que obriga,
- e uma graça que convida,
a Bíblia escolhe a segunda.
