Segue uma resposta bíblico-teológica, com base direta nos PDFs utilizados ao longo da conversa (Hutson Smelley, Roger Olson, Dave Hunt, Laurence M. Vance e Norman Geisler & Thomas Howe), tratando de forma exegética, teológica e pastoral a pergunta:
“Não apagueis o Espírito.” (1Ts 5.19)
Introdução
A exortação de Paulo em 1 Tessalonicenses 5.19 levanta uma questão teológica crucial:
é realmente possível “apagar” a ação do Espírito Santo na vida de um crente?
Sistemas deterministas — especialmente o calvinismo clássico — tendem a reinterpretar esse texto como linguagem meramente fenomenológica ou instrumental, negando que haja possibilidade real de resistência ou interrupção da obra do Espírito.
Entretanto, à luz da Escritura e dos autores analisados nos PDFs, essa leitura não se sustenta.
1. O sentido bíblico da advertência
O verbo grego usado por Paulo (sbennymi) significa literalmente apagar, extinguir, sufocar um fogo. O mesmo termo é usado, por exemplo, para apagar tochas ou chamas reais.
Norman Geisler e Thomas Howe observam que advertências bíblicas pressupõem sempre uma possibilidade real, não meramente hipotética. Caso contrário, a linguagem moral das Escrituras se tornaria ilusória ou enganosa .
Paulo não diz:
- “Não penseis que apagai o Espírito”
mas sim: - “Não apagueis” — uma ordem direta, clara e prática.
2. A exortação só faz sentido se o apagar for possível
Roger Olson enfatiza um princípio hermenêutico simples, porém decisivo:
Advertências reais só fazem sentido se o perigo for real .
Se o Espírito Santo atuasse de forma:
- irresistível,
- infalível,
- e impossível de ser frustrada,
então a exortação de Paulo seria:
- desnecessária,
- enganosa,
- ou meramente retórica.
Nada no contexto indica isso.
3. O contexto imediato de 1 Tessalonicenses 5
O versículo 19 não está isolado. Ele faz parte de uma série de imperativos dirigidos a crentes:
- “Regozijai-vos sempre” (v.16)
- “Orai sem cessar” (v.17)
- “Não apagueis o Espírito” (v.19)
- “Examinai tudo” (v.21)
- “Abstende-vos de toda forma de mal” (v.22)
Hutson Smelley observa que todos esses mandamentos pressupõem capacidade real de obediência ou desobediência .
Não orar, não se alegrar, não examinar e não se abster do mal são possibilidades reais — e o mesmo vale para apagar o Espírito.
4. Apagar o Espírito não é perdê-lo automaticamente
Os autores dos PDFs fazem uma distinção importante:
apagar o Espírito não significa necessariamente perder a salvação, mas resistir, entristecer ou sufocar Sua atuação.
Isso se harmoniza com outros textos bíblicos:
- “Resistis ao Espírito Santo” (At 7.51)
- “Não entristeçais o Espírito Santo” (Ef 4.30)
Dave Hunt destaca que a Bíblia descreve a ação do Espírito como pessoal e relacional, não como força mecânica irresistível .
Relações podem ser feridas, resistidas e negligenciadas — sem deixarem de existir instantaneamente.
5. O problema do determinismo aplicado ao Espírito Santo
Laurence Vance demonstra que, no determinismo calvinista, o Espírito Santo:
- nunca pode ser resistido de fato,
- nunca pode ter Sua ação frustrada,
- atua sempre conforme um decreto infalível.
Isso gera um conflito direto com textos como 1Ts 5.19, Atos 7.51 e Hebreus 3.7–12 .
Se o Espírito não pode ser apagado:
- por que Paulo ordena que não o apaguem?
- por que adverte, em vez de apenas afirmar o decreto?
6. O apagar do Espírito e a responsabilidade cristã
A exortação de Paulo reforça uma verdade central do Novo Testamento:
a vida cristã envolve cooperação responsável com a graça.
Roger Olson chama isso de sinergia bíblica, distinta tanto do pelagianismo quanto do monergismo determinista .
O Espírito:
- guia,
- convence,
- capacita,
mas o crente:
- pode ouvir ou ignorar,
- obedecer ou resistir,
- cooperar ou sufocar Sua obra.
7. Implicações pastorais
Pastoralmente, negar que o Espírito possa ser “apagado” produz efeitos nocivos:
- falsa segurança espiritual;
- insensibilidade à disciplina;
- banalização da santificação.
Smelley e Vance mostram que sistemas que negam resistência real à graça tendem a minimizar a vigilância espiritual .
Já a exortação paulina:
- chama à vigilância,
- promove sensibilidade espiritual,
- incentiva uma vida de comunhão viva com Deus.
Conclusão
À luz da Escritura e da análise dos PDFs utilizados, a resposta é clara:
Sim, segundo a Bíblia, é possível apagar o Espírito — no sentido de resistir, entristecer e sufocar Sua atuação na vida do crente.
Isso:
- não nega a soberania de Deus,
- não diminui o poder do Espírito,
- mas afirma a responsabilidade real do cristão.
O Espírito Santo não age como uma força mecânica irresistível, mas como uma Pessoa divina que:
- chama,
- guia,
- adverte,
- e pode ser rejeitada.
Por isso, a exortação de Paulo permanece viva e necessária:
“Não apagueis o Espírito.”
