A “tolerância” de João Calvino

A intolerância de João Calvino fica evidente a começar pela leitura das próprias Institutas, a principal obra de Calvino, dividida em quatro grandes volumes. Ele se refere aos seus oponentes, que não criam em sua doutrina, por vários diferentes nomes pejorativos, como:

“dementes”[Institutas, 1.16.4.],

“porcos”[Institutas, 3.23.12.],

“mentes pervertidas”[Institutas, 3.25.8.],

“cães virulentos que vomitam contra Deus”[Institutas, 3.23.2.],

“inimigos da graça de Deus”[Institutas, 2.5.11.],

“inimigos da predestinação”[Sermão sobre a Eleição, p. 6.],

“estúpidos”[Institutas, 3.11.15.],

“espíritos desvairados”[Institutas, pp. 1324.],

“bestas loucas”[Institutas, 4.16.10.],

“caluniadores desprezíveis”[Secret Providence, p. 209.],

“gentalha”[Institutas, 3.3.2.],

“espíritos ignorantes”[Institutas, 2.7.13.],

“embusteiros”[Institutas, 2.16.12.],

“bestas”[Institutas, 4.7.9.],

“cães, porcos e perversos”[Sermão sobre a Eleição, p. 4.],

“insanos”[ Institutas, 3.2.38.] e

“criaturas bestiais”[Institutas, 3.2.43.].

Dave Hunt apresenta sua crítica à intolerância de João Calvino principalmente em sua obra de 2002, “Que Amor é Este? A Falsa Representação de Deus pelo Calvinismo” (título original: What Love Is This? Calvinism’s Misrepresentation of God). 
Os principais argumentos de Hunt sobre a intolerância de Calvino incluem:
A obra de Hunt busca alertar os leitores de que muitos calvinistas modernos desconhecem o histórico de comportamento de Calvino, o qual ele considera uma má representação do amor divino.

O Horror em Genebra

Os críticos de João Calvino, apontam uma série de ações em Genebra que descrevem como crimes ou abusos de poder, embora na época muitas dessas ações estivessem de acordo com a legislação civil da cidade. A principal crítica centra-se no uso da autoridade civil para impor a pureza religiosa e punir a dissidência teológica. 
Os principais pontos levantados pelos críticos incluem:
  • Execução de Miguel Serveto: O caso mais notório. Serveto, um médico espanhol que negava a Trindade e o batismo infantil, foi preso em Genebra por ordem de Calvino e queimado na fogueira por heresia em 1553. Calvino argumentou a favor de um método de execução menos brutal (decapitação), mas apoiou a pena capital.
  • Perseguição a Oponentes Teológicos: Outros dissidentes enfrentaram punições severas. Jacques Gruet foi decapitado em 1547 por escrever uma carta ameaçadora contra Calvino e por opiniões consideradas heréticas. Jerônimo Bolsec foi preso e banido por questionar a doutrina da predestinação de Calvino.
  • Regime Moral Rígido (Teocracia): Calvino estabeleceu o Consistório, um tribunal moral que, em conjunto com o conselho da cidade, policiou a vida privada dos cidadãos. Infrações morais, como adultério, jogos de azar, dança e até mesmo usar roupas de cores “erradas” ou certos penteados, eram punidas. O adultério, em algumas ocasiões, era punido com a morte.
  • Altas Taxas de Execuções e Banimentos: Em um período de cerca de cinco anos, treze pessoas foram enforcadas, dez decapitadas e trinta e cinco queimadas na fogueira em Genebra. Entre 1542 e 1564, 76 pessoas foram banidas.
  • Caça às Bruxas: Durante um surto de peste, catorze mulheres foram executadas sob a acusação de bruxaria por supostamente tentarem espalhar a doença com pomadas venenosas. 
Essas ações, embora defendidas por Calvino e pelas autoridades de Genebra como necessárias para manter a ordem e a pureza da fé de acordo com as leis da época, são vistas pelos críticos modernos, como exemplos de intolerância, tirania e uma deturpação do cristianismo, usando métodos de opressão semelhantes aos da Igreja Católica que a Reforma buscou contestar.
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