Segue um artigo bíblico-teológico, elaborado com base direta nos PDFs utilizados ao longo da conversa — Desconstruindo o Calvinismo (Hutson Smelley), Contra o Calvinismo (Roger Olson), Que Amor é Este? (Dave Hunt), O Outro Lado do Calvinismo (Laurence M. Vance) e Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia (Norman Geisler & Thomas Howe) — apresentando de forma clara a visão arminiana sobre a predestinação do mal.
Deus decreta o pecado ou o permite?
Introdução
Um dos pontos mais críticos do debate entre calvinismo e arminianismo diz respeito à origem do mal. O calvinismo clássico, ao sustentar decretos divinos exaustivos e deterministas, acaba afirmando — direta ou indiretamente — que Deus predestinou também o pecado e o mal.
A teologia arminiana rejeita essa conclusão não por razões emocionais, mas por fidelidade bíblica, coerência moral e defesa do caráter santo de Deus.
A pergunta central é simples e decisiva:
Deus predestinou o mal ou apenas o permitiu?
1. O que o arminianismo rejeita
A visão arminiana não nega:
- a soberania de Deus,
- os decretos divinos,
- a presciência exaustiva,
- nem o controle final da história.
O que ela rejeita é a ideia de que:
Deus decretou causalmente cada pecado, cada ato maligno e cada rebelião moral.
Roger Olson afirma que essa concepção faz do determinismo “o verdadeiro motor do sistema”, ainda que verbalmente se negue que Deus seja o autor do pecado .
2. Predestinação, na Bíblia, não equivale a causalidade do mal
A Bíblia usa o termo “predestinação” (proorizō) sempre:
- em relação à salvação,
- à adoção,
- à conformação a Cristo,
- ao destino dos que estão “em Cristo”.
Hutson Smelley demonstra que nenhum texto bíblico afirma que o pecado foi predestinado no mesmo sentido em que a salvação o é .
O erro do determinismo calvinista está em:
- ampliar o conceito bíblico de predestinação,
- transformando-o em decreto causal universal.
3. A distinção arminiana: permissão ≠ decreto causal
A teologia arminiana faz uma distinção fundamental entre:
- vontade decretiva de Deus (o que Ele realiza ativamente),
- vontade permissiva de Deus (o que Ele permite sem causar).
Laurence Vance observa que a Bíblia atribui o pecado:
- à criatura,
- à cobiça,
- à rebelião,
nunca a um decreto divino positivo .
Deus permite o mal porque:
- criou agentes livres,
- valoriza o amor genuíno,
- e governa sem coerção moral.
4. Textos bíblicos decisivos
a) Tiago 1.13–14
“Deus a ninguém tenta… cada um é tentado pela sua própria cobiça.”
Dave Hunt afirma que esse texto exclui explicitamente qualquer ideia de que Deus seja a causa do pecado .
b) Ezequiel 18.23
“Tenho eu prazer na morte do ímpio?… Não desejo eu antes que se converta?”
A visão arminiana afirma que Deus não pode decretar aquilo que declara não desejar moralmente.
c) 1 Coríntios 10.13
Deus não força o pecado, mas sempre oferece escape.
Isso seria incoerente se o pecado fosse decretado de forma irresistível.
5. A queda de Adão segundo o arminianismo
Para o arminianismo:
- a queda foi prevista,
- permitida,
- mas não decretada causalmente.
Roger Olson destaca que responsabilizar Adão por um ato que ele não poderia evitar seria moralmente incoerente e biblicamente insustentável .
A Bíblia trata a queda como:
- uma escolha real,
- com alternativa genuína,
- e consequências justas.
6. O problema moral do determinismo
Os PDFs analisados mostram que o determinismo calvinista gera sérios problemas:
- Deus “ordena” o mal, mas o condena;
- decreta o pecado, mas pune o pecador;
- causa o mal, mas exige arrependimento.
Norman Geisler observa que isso compromete a justiça e a bondade divinas, criando uma contradição moral interna .
O arminianismo evita esse dilema ao afirmar:
Deus governa sem ser o causador do mal.
7. Deus usa o mal sem predestiná-lo
A visão arminiana reconhece que Deus:
- redime o mal,
- limita o mal,
- julga o mal,
- transforma o mal em bem (Gn 50.20; Rm 8.28),
mas isso não significa que Ele o tenha predestinado.
Smelley ressalta que transformar redenção em causação é um erro lógico comum do determinismo .
8. Implicações pastorais e espirituais
Dave Hunt e Vance mostram que a predestinação do mal:
- enfraquece a indignação moral,
- banaliza o pecado,
- confunde o caráter de Deus,
- pode gerar fatalismo espiritual .
Já a visão arminiana:
- preserva a santidade de Deus,
- fundamenta o arrependimento genuíno,
- dá sentido ao juízo final,
- fortalece a ética cristã.
Conclusão
A visão arminiana rejeita categoricamente a predestinação do mal.
Segundo as Escrituras:
- Deus predestina a salvação,
- Deus não predestina o pecado;
- Deus permite o mal,
- Deus não o causa;
- Deus julga justamente porque o mal procede da criatura.
O arminianismo não diminui a soberania divina,
mas a purifica de fatalismo filosófico estranho à Bíblia.
O Deus bíblico é:
- soberano sem ser tirano,
- santo sem ambiguidade,
- justo sem contradição,
- amoroso sem coerção.
Assim, a predestinação do mal não é bíblica,
mas fruto de um sistema teológico que confunde soberania com determinismo.
