Sim, com base na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo de Max Weber, podemos afirmar que para o calvinismo, a prosperidade material pode ser interpretada como um sinal da graça divina, embora de forma indireta e complexa. Eis a explicação:
1. Doutrina da Predestinação Calvinista
O calvinismo ensina que Deus predestinou desde a eternidade quem será salvo (eleitos) e quem será condenado (réprobos). Essa decisão é imutável e independe das obras ou méritos humanos. O problema é que o indivíduo calvinista, angustiado com a incerteza de sua salvação, busca sinais concretos de que pertence aos eleitos.
2. O Trabalho como “Vocação” (Beruf)
Weber demonstra que, no calvinismo, o trabalho assume um valor ético e espiritual. O sucesso profissional e a disciplina no trabalho são vistos como expressão da obediência à vontade de Deus. Assim, uma vida produtiva e bem-sucedida torna-se um “sinal externo” de possível eleição, mesmo que nunca seja uma garantia absoluta.
“[…] o ganho de dinheiro na moderna ordem econômica é, desde que feito legalmente, o resultado e a expressão da virtude e da eficiência em certo caminho; e essas eficiência e virtude são […] o alfa e o ômega da verdadeira ética de Franklin […]”.
3. Ascetismo Intramundano
Os calvinistas desenvolveram um tipo de “ascetismo no mundo”: trabalhavam intensamente, economizavam, evitavam prazeres mundanos e reinvestiam o lucro. Esse comportamento não buscava o lucro pelo prazer material, mas era expressão de uma vida disciplinada, racional, e voltada à glória de Deus. Com isso, a acumulação de riqueza tornou-se um subproduto quase inevitável dessa ética religiosa.
4. Conclusão: Sinal, não causa
Para Weber, o sucesso material no calvinismo não é a causa da salvação, mas um reflexo possível dela. É uma forma de acalmar a ansiedade espiritual: se alguém prospera por meio do trabalho árduo e ético, isso é interpretado como evidência de que talvez seja um dos eleitos.
Em resumo:
Sim, para o calvinismo segundo a análise de Max Weber, a prosperidade pode ser vista como um sinal da graça divina, ainda que nunca como uma certeza ou um mérito. Essa crença contribuiu para o surgimento do “espírito do capitalismo”, baseado em trabalho árduo, disciplina, e racionalidade econômica.