O determinismo e a responsabilidade humana

Com base direta e fiel no livro Contra o Calvinismo, de Roger E. Olson, segue um comentário teológico sobre “o determinismo e a responsabilidade humana”, mostrando por que, segundo o autor, o determinismo calvinista entra em conflito sério com a verdadeira responsabilidade moral do ser humano .


1. O problema central: determinismo absoluto e culpa moral

Roger Olson afirma que o determinismo divino calvinista ensina que Deus preordena e torna certos todos os eventos, incluindo o pecado, o mal e a incredulidade humana. Embora os calvinistas insistam que Deus não é o autor do pecado, o próprio sistema declara que nada acontece fora do decreto divino — inclusive a queda de Adão e cada pecado subsequente .

O problema central é simples e profundo:
👉 como alguém pode ser moralmente responsável por atos que não poderia deixar de praticar?

Segundo Olson, em qualquer sistema moral, jurídico ou bíblico, responsabilidade pressupõe a possibilidade real de agir de outro modo. Sem essa possibilidade, a culpa perde seu sentido .


2. A contradição interna do compatibilismo calvinista

Os calvinistas recorrem ao chamado compatibilismo, isto é, a ideia de que o determinismo absoluto de Deus é compatível com a responsabilidade humana. Para isso, redefinem o “livre-arbítrio” como a capacidade de agir conforme os próprios desejos — mesmo que esses desejos tenham sido determinados por Deus.

Olson mostra que essa redefinição não resolve o problema, apenas o disfarça. Se uma pessoa age exatamente como foi decretado que agiria, sem qualquer possibilidade real de escolha alternativa, então sua responsabilidade é apenas nominal, não moral .

Ele ilustra com um exemplo simples:

Se um réu não poderia agir de outra forma, nenhum júri justo o condenaria.

Esse princípio, segundo Olson, é ignorado pelo determinismo calvinista .


3. Deus como causa última do pecado

Embora os calvinistas façam distinção entre causas primárias (Deus) e causas secundárias (criaturas), Olson argumenta que essa distinção não absolve Deus.

Se Deus é a causa última que:

então a responsabilidade última recai sobre Deus, não sobre a criatura .

Olson cita Jerem y Evans:

“A responsabilidade última reside onde a causa última está.”

Isso torna incoerente afirmar simultaneamente que Deus determinou o pecado e que o ser humano é exclusivamente culpado .


4. O apelo ao “mistério” não resolve a contradição

Alguns teólogos calvinistas, como John Piper, admitem que não sabem explicar como Deus preordena o mal e, ainda assim, não é responsável por ele. Eles afirmam que isso é um “mistério” que deve ser aceito pela fé.

Olson responde que contradição lógica não é mistério. Mistério é algo que ultrapassa nossa compreensão; contradição é afirmar duas coisas que se anulam mutuamente. Aceitar contradições, segundo o próprio Sproul (citado por Olson), é “suicídio intelectual” .


5. O impacto na justiça, no mal e no sofrimento

Outro ponto grave destacado por Olson é que, se tudo é decretado por Deus, então o mal não pode ser verdadeiramente mau. Tudo passa a ser parte necessária do “melhor dos mundos possíveis”.

Isso esvazia:

Segundo Olson, esse determinismo transforma tragédias históricas e morais em meras engrenagens de um plano pré-estabelecido, o que compromete seriamente a bondade moral de Deus .


6. A alternativa bíblica: soberania sem determinismo

Olson insiste que rejeitar o determinismo não é rejeitar a soberania de Deus. A Bíblia ensina que Deus é soberano sem ser o causador direto do pecado.

A alternativa apresentada é a autolimitação divina:

Assim, a responsabilidade humana é preservada e Deus é plenamente inocentado do pecado e do mal .


Conclusão

Segundo Roger Olson, o determinismo calvinista:

Por isso, ele conclui que o determinismo não é exigido pela Bíblia, não é necessário para defender a soberania divina e não é compatível com a justiça moral que a própria Escritura pressupõe .

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