O Dom de Línguas é pra hoje?

YouTube video player

A primeira alusão no Novo Testamento ao falar em línguas estranhas está nas palavras de Cristo em Marcos 16.17:

‘‘Estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome… falarão novas línguas”.

Depois, quando lemos sobre línguas estranhas, é já a manifestação delas entre os quase cento e vinte discípulos no dia de Pentecoste, em Jerusalém (At 2.4); na casa do centurião Cornélio, em Cesaréia (At 10.44-46); em Éfeso quando os doze discípulos de João foram batizados com o Espírito Santo (At 19.6,9); e, provavelmente, entre os crentes samaritanos quando da estada de Pedro e João em Sama- ria: At 8.17-19. Em todos esses casos, as línguas (glossolalia) foram manifestas como evidência do batismo com o Espírito Santo. Depois ainda lemos na primeira epístola de Paulo aos Coríntios um capítulo inteiro (14) sobre línguas, já não como evi­dência do batismo com o Espírito Santo, mas como um dom do Espírito Santo.

Em 1 Coríntios 12.8-10 lemos:

“Porque a um pelo Espírito é dado a palavra da sabedoria; e a outro pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profe­cia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a ou­tro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. ”

Na opinião do antipentecostal Robert G. Gromacki. no seu livro “Movimento Moderno de Línguas”, o dom de línguas e o de interpretação de­las são os dois menores dos dons do Espírito, em ra­zão de o apóstolo Paulo havê-los citado no final da lista dos dons, no capítulo 12 de 1 Coríntios. Esta opinião cai por terra quando a lista dos dons de 1 Coríntios 12.8-10 é comparada com as palavras do versículo 28 do mesmo capítulo, que provam que Paulo não usou um critério de proporcionalidade e grandeza quanto à colocação dos dons na ordem dos seus valores. Por exemplo: nota-se que quando Paulo aconselha os crentes a buscar os melhores dons, disse que eles os buscassem com diligência, mas principalmente o de profecia. Observa-se que se Paulo houvesse feito a listagem dos dons na or­dem dos seus valores, ele teria aconselhado os cren­tes a buscarem “a palavra da sabedoria” (o primei­ro dom da lista) e não o de profecia (o sexto na or­dem dos nove).

O apóstolo Paulo, ainda no capítulo 12, versos 22 e 23 de 1 Coríntios, querendo ensinar sobre a harmonia dos dons do Espírito, comparou-os aos membros do corpo que, juntos, cooperam para o bem comum do mesmo corpo:

“Os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários; e os que reputamos ser me­nos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra”.

Os dons são diferentes entre si como diferentes são os membros do corpo, mas não existem dons inúteis à edificação do corpo de Cristo, sejam quais forem.

  1. LÍNGUAS COMO SINAL

Vale notar que as línguas estranhas têm duas funções na Bíblia. Primeira: elas são apresentadas como sinal, ou evidência de que alguém foi batiza­do com o Espírito Santo. Isso é o que vemos em pelo menos três das cinco ocasiões históricas do derra­mamento do Espírito Santo nos dias do Novo Tes­tamento.

As línguas estranhas neste aspecto manifestam- se uma única vez, isto é, no momento em que o crente recebe o batismo com o Espírito Santo. Se a partir daí o crente continua falando em línguas, essas línguas já passam para a segunda esfera, que é o dom de línguas propriamente dito, o qual se pode manifestar de duas maneiras: línguas congregacionais (interpretáveis); e línguas devocionais (não- interpretáveis).

Aqueles que combatem a doutrina bíblica do batismo com o Espírito Santo intrigam-se com a ênfase que damos quanto à necessidade de se falar línguas estranhas como evidência da recepção des­se batismo, achando ser possível dar-se outra prova em detrimento desta para afirmar que o crente foi batizado com o Espírito Santo. Contudo, o que na prática tenho observado é que aqueles que dizem ter sido batizados com o Espírito mas que não fala­ram línguas, não estão tão seguros de que o foram quanto aqueles que falaram novas línguas.

  1. O QUE Ê DOM DE LÍNGUAS?

O dom de línguas é o meio sobrenatural através do qual o Espírito Santo leva o crente a falar uma ou mais línguas nunca antes estudada, portanto, estranhas àquele que a fala. Este dom nada tem a ver com a habilidade natural de se falar diferentes idiomas. Falar em línguas pela unção do Espírito Santo é “glossolalia” e não “poliglotismo”. O dom de línguas está na esfera do sobrenatural.

Muitos estudiosos desse assunto, com frequência, citam casos de missionários que, após longos anos tentando aprender a língua do povo ou da tri­bo com que trabalham, de momento começam a fa­lar aquela língua com uma fluência invejável, dis­pensando a ajuda de intérprete. E confundem, as­sim, esse fenômeno com o dom de línguas, quando o que aconteceu na verdade foi a manifestação do dom de milagres ou maravilhas.

Quando Paulo escreveu aos Coríntios:

            “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos” (1 Co 14.18), não estava com isso dizendo que falava mais idiomas estran­geiros do que os crentes da igreja em Corinto. Se as­sim fosse o que Paulo estaria fazendo era demons­trar pura vaidade. Ele fazia alusão à glossolalia, ou seja, à habilidade sobrenatural de falar em línguas nunca antes estudadas.

  1. QUAL A UTILIDADE DO DOM DE LÍNGUAS?

Grande é a utilidade do dom de línguas quando exercitado humildemente e com orientação do Es­pírito Santo. À luz de 1 Coríntios 14, o exercício do dom de línguas é útil para:

falar mistérios com Deus. “… quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, vis­to que ninguém o entende, e em espírito fala misté­rios” (v.2);

edificação individual. “0 que fala em outra língua a si mesmo se edifica…” (v.4);

orar bem. “Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato…” (v.14);

complemento do culto. “Que fazer, pois, ir­mãos1? Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina; este traz revelação, aquele outro língua, e ainda outro interpretação”, v.26.

Falar de mistérios com Deus é um grande privi­légio. Aquele que fala em línguas estranhas tem consciência de que está orando a Deus, louvando-o ou rogando algo a Ele, não obstante desconheça o significado daquilo que ora. Fala de acordo com o momento, e com uma força a jorrar dentro de si; mesmo assim, tem consciência de que é ele quem fala, e tem controle para começar ou terminar à hora que quiser. A pessoa fica perfeitamente calma e em pleno uso de suas faculdades mentais, cons­ciente do que está fazendo e do que está acontecen­do em tomo dela. Frequentemente está absorvida por uma conversa racional, e normal, imediata­mente antes e depois de falar em línguas.

Não há nenhum pecado em o crente buscar edi­ficação espiritual ou individual através de uma identificação mais íntima com Deus. John F. Mac- Arthur diz no seu livro “Os Carismáticos” que o falar em línguas é um individualismo condenado por Paulo e que o individualismo deve ser evitado pelo cristão. Essa assertiva não tem apoio nas Es­crituras. Veja, por exemplo: se o falar em línguas mostra individualismo, e se o individualismo não edifica ninguém, como iria Paulo dizer que “o que fala em outras línguas a si mesmo se edifica”? 1 Co 14.4.

Há uma grande incoerência entre a afirmação de John F. MacArthur e o pensamento de Paulo, que está mais claro no versículo 39 de 1 Coríntios 14: “…não proibais falar línguas”. Se a edificação pes­soal fosse individualismo e egoísmo, Paulo jamais teria escrito a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo…” 1 Tm 4.16. Noutro lugar escreveu Judas: “Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé…”, Jd 20.

Uma igreja sólida ergue-se com o respaldo da edificação individual de cada um de seus membros.

Falar a Deus em outras línguas é orar com o espírito e no espírito; fazer assim é orar bem. Atra­vés das línguas estranhas, o crente fala e o Espírito Santo comunica a ele a alegria (ou a angústia) que lhe vai no coração, o que, de outro modo, ao crente não seria revelado. Isto é o que ensina Paulo em Ro­manos 8.26:

“E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que ha­vemos de pedir como convém, mas o Espírito inter­cede por nós com gemidos inexprimíveis”.

Através das línguas estranhas, podemos elevar a Deus o mais puro louvor que as nossas tribulações e tentações impedem que façamos em nossa pró­pria língua.

  1. QUEM NÃO FALOU EM OUTRAS LÍNGUAS?

Robert G. Gromacki, no seu livro “Movimento Moderno de Línguas”, escreve:

“Tem havido, e ainda há, muitos homens piedo­sos que não falaram línguas: Calvino, Knox, Wesley, Carey, Judson, Moody, Spurgeon, Torrey, Sundey e Billy Graham (…) Certamente eles têm manifestado mais santidade e têm testemunhado mais efetivamente em prol de Cristo do que muitos que pretendem ter falado línguas”.

Este argumento de Gromacki baseia-se em ho­mens, antes que nas Escrituras. O fato de não se ler que esses homens falaram em línguas estranhas, implica deveras em que eles não as tenham falado? Pode-se usar o silêncio deles sobre o assunto para formar uma doutrina de negação daquilo que a Bíblia ensina com clareza meridiana? E se eles não falaram línguas, isto invalidará a promessa divina? – De maneira nenhuma!

Se o fato de alguns cristãos nobres não terem fa­lado em línguas anula a promessa de Deus, ou se o dom de línguas é inautêntico só porque os pentecostais “pretensamente” dizem ter falado em línguas, dar-se-ia o caso que a autenticidade ou a inautenticidade de qualquer dom divino pode ser evidencia­da pela aceitação ou pela rejeição parcial ou total desses dons. Partindo dessa premissa, atrevo-me a mostrar um número muito maior de crentes céle­bres que falaram e falam outras línguas do que a- quele que os antipentecostais apontam como não tendo falado línguas.

Vem o caso de fazer aqui a indagação de Paulo, feita em 1 Coríntios 3.5: ‘‘Quem é Apoio? e quem é Paulo?…”. Quem foi Calvino, Knox, Wesley, Carey, Judson, Moody, Spurgeon, Torrey, Sundey? e quem é Billy Graham senão “servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um”. Deve-se porventura evocar a vida piedo­sa de qualquer um desses homens de Deus com o propósito de se anular algum dom do Espírito San­to, mesmo que seja o de língua? – Evidentemente não.

  1. QUAL O COMPORTAMENTO MAIS SENSA­TO QUANTO AO DOM DE LÍNGUAS?

Evidentemente, o melhor comportamento quan­to ao dom de línguas é o que foi demonstrado pelo apóstolo Paulo, ainda no capítulo 14 de 1 Coríntios:

a) – “Eu quero que todos vós faleis línguas es­tranhas”, v.5

b) – “…pelo que, o que fala línguas estranhas, ore para que possa interpretar”, v.13.

c) – “Não proibais falar línguas”, v.39.

Á igreja de Corinto não faltava dom algum (1 Co 1.7), o que faltava era o ensino quanto ao uso desses dons, haja vista o abuso que se fazia deles, principalmente do dom de línguas. Diante dessa necessidade, que fez Paulo? a) Disse que todos os crentes na igreja poderiam falar em línguas, desde que o fizessem de forma ordeira e dirigida, b) Orientou no sentido de que aqueles que falavam línguas orassem para que recebessem do Espírito Santo a capacidade de interpretá-las, a fim de que a igreja fosse edificada. Paulo poderia ter escrito: “Pelo que, o que fala línguas estranhas e não pode interpretar [deixe de falar]”, mas não foi assim que fez. O objetivo da observação do apóstolo, visava a dimensionar o uso correto desse dom. c) Exortou en­tão aqueles que, por não possuírem sabedoria, que­riam proibir o dom de línguas, a que dessem livre curso a esse dom.

Não há dons imperfeitos ou desnecessários, o que há é imperfeição ou omissão quanto ao uso dos dons por parte de alguns crentes.

Se alguém tem um dos membros afetado por uma enfermidade, o que deve fazer para extirpar a enfermidade desse membro? – Cortar o membro doente? Não, de modo nenhum! O que deve é tra­tar do membro enfermo até que este possa voltar a exercer a sua função insubstituível, para o bem de todo o corpo.

Billy Graham é de opinião que existe um dom de línguas real, em contraste com uma imitação, e que muitos dos que receberam esse dom foram transformados espiritualmente – alguns por pouco tempo e outros permanentemente.

  1. NORMAS QUANTO AO USO DO DOM DE LÍNGUAS

Quanto ao exercício do dom de línguas, o após­tolo Paulo não só ratifica a liberdade que o crente tem de exercitar o dom, mas também estabelece um princípio normativo para esse exercício, prin­cipalmente no culto público, onde pessoas não- crentes tenham acesso.

Segundo Paulo, aquele que possui o dom de línguas deve observar o seguinte:

Paulo diz que se alguém fala em línguas e as in­terpreta está contribuindo para a edificação da igreja, como também o faz aquele que profetiza. Assim, aquele que fala em outra língua deve ter o cuidado de não fazer do culto público um espetácu­lo de glossolalia, a não ser que possa interpretar a língua que fala.

O culto público nunca deve ser transformado num festival de línguas estranhas; tampouco a mensagem evangelística ou de doutrina deve ser in­terrompida pelo falar em língua estranha. Pergunta o apóstolo Paulo:

“Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lu­gar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não di­rão porventura, que estais loucos?” 1 Co 14.13.

No caso de manifestar-se o dom de línguas em culto público, que somente dois, ou quando muito três, falem em línguas; não os dois ou os três de uma só vez, mas um após o outro, e com a condição de haver quem interprete; do contrário, que “fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus”, ou seja, que não perturbe a boa ordem do culto atraindo para si as atenções dos presentes, em detrimento da pregação e do louvor.

  1. “FAÇA-SE TUDO DECENTEMENTE E COM ORDEM”, 1 Co 14.40

Os pentecostais, em geral, são tachados de ba­rulhentos, emocionais e, às vezes, de desordeiros. Para aqueles que se lhes opõem, “faça-se tudo de­centemente e com ordem” é o versículo preferido. Para esses (os antipentecostais) “decência e or­dem” é o mesmo que silêncio. Um cemitério, por exemplo, retrata muito bem a decência e ordem que eles gostariam de ver entre os pentecostais. Os que habitam os cemitérios não perturbam ninguém, eles têm perfeita ordem; mas eu conheço milhares de pessoas que preferem mil vezes a “desordem” dos vivos à decência e ordem dos mortos. Vem ao caso lembrar as palavras do Dr. John Alexander Mackay, presidente emérito do Seminário Princeton:

“Se eu tivesse de fazer uma escolha entre a vida inculta dos pentecostais e a morte estática das igre­jas mais antigas, pessoalmente, preferiria essa vida inculta”. Noutra oportunidade disse ainda o Dr. Mackay: “Alguma coisa está errada quando a emo­ção se toma legítima em tudo, exceto na religião”.

Um certo pregador disse:

“Hoje em dia, vai-se ao futebol para torcer; ao cinema para chorar, e à igreja para gelar”. E, pros­seguindo, disse como testar a realidade da emoção em qualquer experiência espiritual, usando esta re­gra: “Não me importa seus pulos e gritos em meio à emoção, desde que, passando aquele momento, vo­cê tenha vida equilibrada”.

O medo dos “erros” dos pentecostais, manifes­tos por excesso de emoção, tem impedido que mui­tos crentes sinceros gozem um Cristianismo vivo e dotado do genuíno frescor espiritual. Eles são pes­soas incapazes de acertar, porque são dominados pelo medo de errar, pelo que jamais farão coisa al­guma. Conheço muitos crentes que estão acuados entre o profundamente humano e aquilo que po­dem experimentar pela operação do Espírito Santo, só porque os seus líderes os ensinaram a pensar e a agir assim. Lembra-me a história do pescador que, ao apanhar um peixe, o media, e, se o pescado me­disse mais de 25 centímetros de comprimento, ele o devolvia à água. Naquele instante aproximou-se um turista que, curioso com o que via, perguntou porque o pescador agia assim, ao que ele respon­deu: “É que minha frigideira só tem vinte e cinco centímetros de diâmetro, e não adianta levar para casa um peixe maior do que a medida que ela com­porta”. Infelizmente, muitos crentes são como esse pescador: incapazes de buscar e reter consigo uma experiência que vá além dos limites estabelecidos pelos seus teólogos e líderes.

João Wesley, o grande avivalista inglês, acerca dos gritos, convulsões, danças, visões e coisas teste­munhadas nos seus dias, disse:

“O perigo consiste em dar-lhes um pouco de va­lor, em condená-las abertamente, em imaginar que não provenham da parte de Deus; e isso serve de obstáculo ao trabalho do Espírito, pois a verdade é que:

a. Deus tem convencido, forte e subitamente, a muitos de que são pecadores perdidos, e as consequências naturais disso têm sido clamores súbitos e violentas convulsões corporais;

b. para fortalecer e encorajar os que creem, e para tomar a sua obra mais evidente, o Senhor fa­voreceu a alguns deles com sonhos divinos, e a ou­tros com êxtases e visões;

c. em algumas dessas instâncias, após algum tempo, a natureza humana mescla-se com a graça;

d. o próprio Satanás imita essa parte da obra de Deus, a fim de lançar no descrédito toda a obra; no entanto, não é mais sábio desistir dessa porção do que desistir do todo. A princípio, sem dúvida al­guma, tudo se originava inteiramente em Deus. E, parcialmente, continua assim, até os nossos pró­prios dias; e Ele nos capacitará a discernir até que ponto, em cada caso, a situação é pura, bem como onde se mescla com coisas estranhas e se degenera. A sombra não é motivo para desprezarmos a subs­tância, nem o diamante falso para recusarmos o autêntico”.

Outro depoimento digno de observação quanto a esse assunto, é do Dr. T.B.Barratt, de Oslo, No­ruega:

“Os sinais sobrenaturais, os dons do Espírito, as demonstrações do corpo, tudo é uma parte apenas desse Movimento Pentecostal, mas a grande in­fluência moral desse avivamento, o poderoso ímpe­to espiritual que ele nos traz é de monta muito maior”.

Os antipentecostais, preocupados em denunciar as exceções, pisoteiam as regras. Ao tentarem ex­purgar os pentecostais do seio da Igreja, estão de­nunciando a esterilidade de suas próprias igrejas. Isso lembra o que disse o teólogo suíço, Karl Barth:

“Ao jogarem fora a água em que banharam a criança, jogaram também a criança. Ao tentarem tomar o cristianismo plausível para os céticos, o que conseguiram foi tomá-lo destituído de senti­do”.

O capítulo 6 de 2 Samuel relata a volta da arca do Senhor à cidade de Jerusalém. A alegria de Davi pelo evento era tal, que “saltava com todas as suas forças diante do Senhor’’.

Mas “sucedeu que, entrando a arca dó Senhor na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo o rei Davi, que ia bai­lando e saltando diante do Senhor, o desprezou no seu coração”.

No final da festa, “embriagado” pela alegria do Senhor, Davi volta para casa, e Mical, sua mulher, sai-lhe ao encontro e lhe censura o comportamento, dizendo:

“Quanto honrado foi o rei de Israel, descobriido-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se descobre qualquer vadio. “Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que me escolheu a mim antes do que a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do Se­nhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho ale­grado. E ainda mais do que isto me envilecerei, e me humilharei aos seus olhos; e das servas, de quem me falaste, delas serei honrado”, vv.20-22.

Para Mical, indiferente ao significado da volta da arca do Senhor à cidade de Jerusalém, era fácil, através da janela do palácio real, fazer mau juízo de Davi, que, feliz, em meio ao povo, dançava de alegria na presença do Senhor. Para Mical impor­tava a “etiqueta”, como para os antipentecostais importa hoje a “decência e ordem” cemiterial.

Na cristandade de hoje acontece o mesmo: ser pentecostal é para muitos um agravo ao pudor evangélico. Alguém pode escrever ou dizer porque não é pentecostal, e o seu testemunho é como um grande serviço prestado a Deus; mas, se alguém es­creve porque é pentecostal, isso parece uma idioti­ce: é como Davi tentando convencer a Mical porque dançava nas ruas de Jerusalém no meio da plebe.

O último versículo do capítulo 6 de 2 Samuel diz:

“E Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até ao dia da sua morte”.

O contexto deste versículo mostra que a esterili­dade de Mical era devida à censura feita por ela ao rei Davi. Esta, sem dúvida, tem sido a inevitável sentença sob a qual têm estado grande parte das denominações cujos líderes têm feito do antipentecostalismo o seu apostolado.

Apesar disso, o número de pentecostais conti­nua crescendo, e sabe-se que há hoje em todo o mundo nada menos de cinquenta milhões de cren­tes que têm experimentado a promessa pentecostal do batismo com o Espírito Santo, acompanhada do falar em outras línguas.

  1. A HISTORICIDADE DO DOM DE LÍNGUAS

A história mostra que a experiência pentecostal de falar línguas estranhas constitui-se num círculo ininterrupto desde o dia de Pentecoste até os nossos dias, e continuará até que Cristo volte.

Agostinho escreveu no IV século:

“É de esperar-se que os novos convertidos falem em novas línguas”.

Irineu, discípulo de Justino discípulo do apósto­lo João, escreveu:

“Temos em nossas igrejas irmãos que possuem dons proféticos e, pelo Espírito Santo, falam toda classe de idiomas”.

João Crisóstomo, no V século escreveu:

“Qualquer pessoa que fosse batizada nos dias apostólicos, imediatamente falava em línguas”.

Tertuliano inseriu nos seus escritos manifesta­ção dos dons do Espírito Santo, entre os quais o dom de línguas, no meio dos montanistas, movi­mento ao qual ele pertencia.

O decano Farrar, em seu livro “Das Trevas à Aurora”, refere-se aos cristãos perseguidos em Ro­ma, cantando hinos e falando em línguas desconhe­cidas.

Na História da Igreja Alemã, lemos o seguinte:

“O Dr. Martinho Luterofoi um profeta, evange­lista, falador em línguas e intérprete, tudo em uma só pessoa, dotado de todos os dons do Espírito”.

Na História da Igreja Cristã, escrita por Filipe Schaff, edição de 1882, ele escreve que o fenômeno de falar em línguas tem reaparecido de quando em quando nos avivamentos dos Camisards e dos Cevennes, na França e entre os primitivos Quakers e Metodistas, seguidores de Lasare da Suécia em 1841-1843, e entre os irlandeses em 1859, e final­mente, até os nossos dias.

Na história dos avivamentos de Finney, Wesley, Moody e outros, houve demonstração do poder do Espírito Santo no dom de falar línguas com pros­trações físicas e estremecimento debaixo do poder de Deus. Charles G. Finney assegura em sua auto­biografia que o Senhor se manifestou aos seus discí­pulos nesta geração, assim como fez nos tempos apostólicos.

James Gilchrist Lawson, em seu livro “Profun­das Experiências de Cristãos Famosos”, escreve:

“Em algumas ocasiões o poder de Deus se mani­festava em tal grau nas reuniões de Finney, que quase todos os presentes caíam de joelhos em ora­ção, ou melhor, oravam com lamentos e queixumes inenarráveis pelo derramento do Espírito de Deus”.

O Rev. R. Boyd, batista, amigo íntimo de Dwight L. Moody, relata no seu livro “Provas e Triunfos da Fé”, edição de 1875:

“Quando cheguei ao Vitória Hall, Londres, en­contrei a assembléia ardendo. Os jovens estavam falando em línguas e profetizando. Qual seria a ex­plicação de tão estranho acontecimento? Somente que Moody os estava dirigindo naquela tarde”.

Stanley Frodsham, em seu livro ”Estes Sinais Seguirão”, dá detalhes do poderoso derramamento do Espírito Santo em 1906, em Los Àngeles, Cali­fórnia:

“Centenas de leigos e ministros, todos por igual, de todo os Estados Unidos – metodistas, episco­pais, batistas, presbiterianos, e os denominados se­guidores da doutrina da Santidade – de diferentes nacionalidades, foram batizados com o Espírito Santo e falavam em outras línguas, seguindo-se os sinais”.

No seu livro “Demonstração do Espírito San­to”, H.H. Ness escreveu:

“Quando o fogo pentecostal brotou com ímpeto entre os cristãos das igrejas da Aliança Missionária Cristã nos estados de Ohio, Pensilvânia, Nova Ior­que e outros estados do Noroeste dos Estados Uni­dos, faz alguns anos, em muitos deles houve de­monstração do poder do Espírito Santo, o que foi visto, sentido e ouvido. Resultaram notáveis mila­gres de cura divina – recuperação de saúde de ce­gos, surdos, mancos e outros afligidos – pela oração da fé. Mais ainda, não houve ali somente prostra­ções e línguas desconhecidas, mas houve também surpreendentes casos em que pessoas foram levan­tadas do solo pelo poder de Deus”.

Nestes últimos anos tem-se tornado comum ler em jornais, revistas e livros, a respeito da experiên­cia de falar línguas estranhas entre evangélicos de denominações até então invulneráveis à ação sobre­natural do Espírito Santo.

O jornal episcopal “The Living Church”, há al­guns anos, trouxe o seguinte sobre o fenômeno de falar línguas estranhas:

“O falar em línguas não é mais um fenômeno de alguma seita estranha do outro lado da rua. Está em nosso meio, e vem sendo praticado pelo clero e pelos leigos, homens de nomeada e boa reputação na igreja. Sua introdução generalizada se chocaria contra nosso senso estético e contra algumas de nossas mais entrincheiradas ideias preconcebidas. Mas sabemos que somos membros de uma igreja que de toda sorte precisa de um choque – se Deus tem escolhido este tempo para dinamitar o que o bispo Sterling, de Montana, designou de ‘respeita­bilidade episcopal’, não conhecemos explosivo de efeito mais terrivelmente eficaz”.

No “The Episcopalian” de 15/05/1968, disse o Rev. Samuel M. Shoemaker:

“Sem importar o que significa o antigo-novo fe­nômeno do ‘falar línguas’, o mais admirável é que se declara, não apenas no seio dos grupos pentecostais, mas também entre os episcopais, os luteranos e os presbiterianos. Eu mesmo não passei por essa experiência, mas tenho visto pessoas que a têm re­cebido, e isso as tem abençoado e dado um poder que não possuíam antes. Não pretendo entender esse fenômeno, mas estou razoavelmente certo de que indica a presença do Espírito Santo, assim como a fumaça que sai de uma chaminé indica a presença de fogo por baixo. E sei com certeza que isso significa que Deus quer entrar na igreja anti­quada e autocentralizada como geralmente ocorre, para que lhe outorgue uma modalidade de poder que a torne radiante, excitante e altruísta. Deveríamos procurar compreender e ser reverentes para com esse fenômeno, ao invés de desprezá-lo ou zombar dele”.

  1. CESSOU O DOM DE LÍNGUAS?

No seu livro “Os Carismáticos”, John F. MacArthur escreve o seguinte:

“Primeiro Coríntios 13.8 declara claramente que ‘as línguas cessarão’. Quanto a esse ‘cessar’, o verbo grego não se encontra na voz passiva mas na voz reflexiva, que sempre enfatiza o sujeito que faz a ação. O que essa frase no versículo 8 está dizendo é que ‘as línguas cessarão por si mesmas’.

“Se as línguas cessarão por si, a questão é quan­do ? Depois de diversos anos de estudo, em que li to­dos os lados da questão e discuti com carismáticos como também com pessoas não-carismáticas, estou convencido, sem dúvida alguma, de que as línguas cessaram na era apostólica, e que, quando cessa­ram, foi uma coisa permanente”.

É evidente que este raciocínio do antipentecostal John F. MacArthur é falho e não honra as Escri­turas, nem se harmoniza com a historicidade da glossolalia que se tem tomado um círculo ininter­rupto desde o dia de Pentecoste até os nossos dias. O dom de línguas é um dom atualíssimo.

Para melhor compreensão do assunto, é impor­tante citar não só o versículo 8 de 1 Coríntios 13, mas também os versículos 9 e 10:

“A caridade nunca falha; mas havendo profe­cias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciências desaparecerá; porque em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado”.

MacArthur assegura que as línguas cessaram na era apostólica, porém, como os demais antipentecostais, é de opinião de que “profecia” e “ciência” são dons ainda operantes na igreja de hoje. É sim­plesmente inconcebível que as línguas tenham ces­sado, e “profecia” e “ciência” que estão sujeitas ao mesmo espaço de vigência, ainda continuem.

A alusão de Paulo às línguas, profecia e ciência, é feita em termos de comparação com a caridade. É evidente que há circunstância em que o próprio amor chega a faltar, mas isto não é regra, mas uma exceção.

John F. MacArthur tem dificuldade em fixar com exatidão bíblica, quando o dom de línguas ces­saria. A maioria dos antipentecostais, cujas obras tenho consultado, são de opinião de que 1 Coríntios 13.10 – “…mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado” – significa que quando fosse encerrado o cânon divino (segundo eles) o que Paulo se refere como “o que é perfeito”, então o que é perfeito em parte (segundo eles, refe­rente ao dom de línguas e aos demais dons), será aniquilado.

Se as Escrituras não dizem o que dizem os seus escritos, como dirão aquilo que dizem os antipentecostais? Ao escrever sobre uma aparente transitoriedade do dom de línguas, o apóstolo Paulo se refe­ria simplesmente às limitações às quais estamos su­jeitos até que aquele que é perfeito (Jesus Cristo) apareça na plenitude da sua glória, quando então seremos semelhantes a Ele: Jó 19.25-27; SI 17.15; 1 Jo 3.2.

“De igual modo, agora só podemos ver e com­preender um pouquinho a respeito de Deus, como se estivéssemos observando seu reflexo num espe­lho muito ruim; mas o dia chegará quando o vere­mos integralmente, face a face. Tudo quanto sei agora é obscuro e confuso, mas depois verei tudo com clareza, tão claramente como Deus está vendo agora mesmo o interior do meu coração”, 1 Co 13.12 (O Novo Testamento Vivo).

  1. MAIS EVIDÊNCIAS DA ATUALIDADE DO DOM DE LÍNGUAS

Sabe-se que, hoje, nada menos de cinquenta mi­lhões de cristãos, espalhados por todas as partes do mundo, em diferentes denominações, falam em línguas. São crianças, jovens, e adultos que gozam do glorioso privilégio de adorar a Deus em novas línguas. Sabe-se que até irmãos mudos-surdos têm sido tomado pelo Espírito Santo e inspirados a falar em línguas como acontece a qualquer pessoa nor­mal. Mesmo igrejas até há pouco invulneráveis à operação do Espírito Santo, têm levantado a sua voz, num vibrante testemunho quanto à atualidade dos dons do Espírito Santo.

Sob o patrocínio do Rev. Silvio Ribeiro Ladeira, pastor da Igreja Presbiteriana Independente de Carapicuíba, São Paulo, foi publicado recentemente o livro “O Movimento Carismático e a Teologia Re­formada”, de autoria do Dr. J. Rodman Williams, que traz a opinião de ilustres teólogos e de famosas igrejas quanto à atualidade do dom de línguas.

  1. A. Hoekema, teólogo reformado conservador, escreve:

“… não podemos certamente limitar o Espírito Santo, sugerindo que seria impossível para Ele con­ceder o dom de línguas hoje.”

A “Dutch Reformed Church” da Holanda, em sua carta pastoral de 1960, sobre a Igreja e os Gru­pos Pentecostais, diz:

“Achamos presunçoso afirmar que o falar em línguas foi algo somente para o início do Cristia­nismo. A evidência bíblica em Atos e 1 Coríntios 12 a 14 é demasiado explícita para isso. O fato de falar em línguas ter também um significado em nossos dias, não pode ser, portanto, posto de lado.”

———

LIVRO: A DOUTRINA PENTECOSTAL HOJE – CPAD, RAIMUNDO F. DE OLIVEIRA.

Sair da versão mobile