Ariovaldo Ramos dos Santos nasceu em São Paulo, em 1º de janeiro de 1956. Filho de Alcides Ramos dos Santos, operário e Raimunda Maria dos Santos, costureira. De família simples, ainda criança se mudou para a zona norte de São Paulo e, mais tarde, para Guarulhos, na grande São Paulo, onde passou a adolescência.. De sua história pessoal traz o compromisso com os pobres. Da sua luta por justiça e igualdade faz sua bandeira e expressão de fé. Pastor de formação e estudioso de filosofia está envolvido no ministério religioso desde 1974. Começou como leigo na Igreja Metodista Livre em Jardim Paraventi, em Guarulhos, envolvido na área de ensino e exposição da Bíblia.
Em 1984 foi trabalhar na Vinde (Visão Nacional de Evangelização, uma ONG fundada pelo conhecido pastor Cáio Fábio D’ Araújo Filho), no Rio de Janeiro, na Favela do Gás, em Niterói. Lá, numa comunidade empobrecida, aliava fé e transformação social. É dessa vivência que se torna um dos principais teólogos brasileiros da missão integral, uma teologia que oferece uma lente através da qual se lê as Escrituras Sagradas em busca de referenciais para a presença do cristão no mundo.
Nas palavras do próprio Ariovaldo Ramos a missão da igreja, além de promover salvação é promover dignidade e justiça, alterando a realidade social. Em 1991, de volta a São Paulo, Ariovaldo se envolveu no ministério Jeame – Jesus Ama o Menor, que trabalhava com crianças e adolescentes em situação de rua, especificamente as que se drogavam e praticavam pequenos delitos na Praça da Sé. O trabalho consistia em restabelecer o vínculo das crianças com suas famílias, através de atendimento integral. Do Jeame passou a apoiar também a Missão Ágape, que atendia crianças que aguardavam adoção
Em 1993 coordenou a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, do Betinho, na cidade de São Paulo. Sendo o primeiro evangélico a ocupar a coordenação, envolveu dezenas de igrejas na campanha contra a fome, motivando-as a arrecadar e distribuir alimentos para as instituições cadastradas. De volta ao Rio de Janeiro, em 1996, retorna a trabalhar na Vinde, dessa vez na Fábrica da Esperança, em Acari, subúrbio da cidade. Entre suas funções estava a implementação de pólos de cidadania e prestação de serviços à comunidade, como os cursos realizados na Fábrica. Lá eram oferecidos cursos gratuitos de eletricidade, informática, inglês e teatro para 15 mil pessoas por mês, das quais oito mil adolescentes. A participação de Ariovaldo Ramos também é presente após a chacina de Vigário Geral, onde 21 pessoas da comunidade foram mortas por Policiais Militares, na construção da Casa da Paz. A Casa que se tornou da Paz pertencia à família de evangélicos mortos na chacina: oito pessoas assassinadas na frente de cinco crianças.
Mais uma vez de volta a São Paulo, passa a atuar na Sepal – Serviço de Evangelização da América Latina, onde intensifica o ensino da missão integral da igreja e desafia líderes evangélicos e pastores a servirem os pobres, não somente com a pregação do Evangelho, mas lutando contra outros sinais de morte que existem na miséria e desigualdade social. Em 2002 é eleito presidente do conselho da Visão Mundial no Brasil, por seu envolvimento e militância nas causas sociais e pelo reconhecimento de sua liderança na Igreja evangélica brasileira. A Visão Mundial é uma organização não governamental humanitária cristã que trabalha no enfrentamento da pobreza e da exclusão social, priorizando em seus programas crianças e adolescentes de comunidades pobres e em situação de vulnerabilidade.
Desde 2004 faz parte do Conselho de Segurança Alimentar da Presidência da República, com atuação reconhecida pelos outros conselheiros por estar sempre antenado com os problemas e a situação atual do país.
Fonte: https://www.saopaulo.sp.leg.br/iah/fulltext/justificativa/JPDL0074-2006.pdf
CASO DE 2019
Mais recentemente, Ariovaldo foi pivô de uma crise envolvendo a Missão Kairós. Segundo publicado em < https://noticias.gospelmais.com/missionarios-criticas-ariovaldo-ramos-missao-kairos-114554.html> o caso é o que a seguir descreveremos.
Uma crise que se alonga há anos nas dependências da Missão Kairós tornou-se pública nas últimas semanas e ganhou notoriedade na última quarta-feira, 22 de maio, após publicação feita pelo pastor Yago Martins em suas redes sociais, com críticas e denúncias diretas contra o presidente da agência missionária, pastor Ariovaldo Ramos.
A Missão Kairós é uma entidade fundada em 1988 que reúne obreiros e missionários no campo, inclusive no exterior, mantida por ofertas de igrejas brasileiras. No último dia 09 de abril, o pastor presbiteriano Alberto Thieme usou sua página no Facebook para externar o cenário de insatisfação dos integrantes da agência com a administração da entidade.
Thieme listou que as discordâncias vão desde a forma como a entidade é gerida até à maneira como a Missão Kairós tem sido associada à imagem de Ariovaldo Ramos enquanto um militante político-ideológico de esquerda, com relação estreita com o Partido dos Trabalhadores (PT).
“A missão passou a ter um decrescimento financeiro progressivo e muitas críticas ao novo presidente, bem como seus modelos de gestão. Cremos que parte das críticas se davam por razão da já conhecida postura político-partidária do presidente Ariovaldo Ramos e, outra parte por motivos diversos, alguns injustos”, ponderou Thieme, acrescentando que “um cenário difícil foi se formando… mas não houve, nos parece, um esforço eficaz por parte da presidência abandonar a militância política e de restaurar a ordem, muito menos de deixar a liderança da agência, como foi solicitado em 2016 por um grupo de diretores em um retiro de Oração”.
“Como é sabido por boa parte da igreja evangélica brasileira, a real e verdadeira mantenedora da Missão Kairós, o pastor Ariovaldo Ramos está profundamente comprometido com o Partido dos Trabalhadores, seu presidente de honra Sr. Luís Inácio Lula da Silva, condenado e preso por corrupção e associado ao maior esquema de corrupção do mundo”, destacou Thieme.
Em outro trecho da carta pública, o pastor presbiteriano traz nova ponderação, afirmando que se Ariovaldo Ramos ”usasse, eventualmente, de uma militância politico-ideológica mais ‘à direita’, que comprometesse seu desempenho e neutralidade, igualmente, estaríamos reprovando-o como liderança”.
Críticas e denúncias
Ao longo de sua carta, Thieme faz citações a polêmicas relacionadas ao pastor Ariovaldo Ramos, acusações feitas por terceiros em assuntos ligados à militância política e também críticas à forma como a “crise financeira na missão, que tinha cerca de 3.5 milhões de reais no seu ativo na ocasião do falecimento do último presidente”, o pastor Edison Queirós, que substituiu o também já falecido pastor Waldemar de Carvalho.
Nesse contexto, o pastor Yago Martins, conhecido pelo canal Dois Dedos de Teologia, usou suas plataformas nas redes sociais para dar vazão à insatisfação dos obreiros e mantenedores da Missão Kairós.
“Com uma história honrosa de mais de 30 anos e vários locais, hoje agoniza com uma liderança completamente irresponsável e sem compromisso com a igreja brasileira, com a Missio Dei e sequer com seus obreiros”, afirmou Martins, que contextualizou que a chegada de Ariovaldo Ramos à presidência da entidade em 2012 se deu por uma “sucessão de fatalidades”.
Yago Martins, de forma mais direta, disse ainda que Ariovaldo Ramos tem se mantido indiferente às críticas. ”Alheio à destruição da reputação da missão, às dívidas que só crescem, à saída de obreiros exaustos em lhe pedir bom senso e responsabilidade, o pastor petista, como é conhecido, segue destruindo a missão, viajando para fazer militância politico-ideológica, Brasil afora”.
“Além disso, tem usado da própria estrutura física da missão para fazer sua militância: os vídeos de ‘protesto’ ao governo e em apoio a um suposto estado de direito são feitos no próprio escrtório da Kairós, onde o mesmo montou um estúdio e tem usado como local onde se reúne um grupo de irmãos pastoreado por ele. Obreiros antigos da Missão foram mandados embora ou saíram. Um grupo que o apoio e sem qualquer vínculo histórico com a Kairós e com Missões Transculturais assumiu as áreas chaves da Missão. Há também, graves denúncias de desvio de recursos e de atos ilegais como mudança arbitrária de estatuto”, acrescentou.
Repercussão
O pastor assembleiano Geremias do Couto comentou as denúncias e críticas feitas por Thieme e Martins no Facebook: “Quem conheceu a Missão Kairós em seus tempos missionais hoje se entristece com a tomada da instituição para fins políticos e ideológicos”.
Outro internauta, Leandro Silva, seguiu a mesma linha: “Tudo o que o Yago está dizendo é fato. Sou professor no treinamento da Kairós há muitos anos e infelizmente a coisa está piorando cada vez mais. Só quem não conhece a visão missionária e não conheceu o PR. Waldemar está criticando… Parem de falar o que não sabem e orem!! Esse Ariovaldo tem que sair”.
Por outro lado, houve manifestações em defesa de Ariovaldo Ramos: “Yago Martins, caso eu apresente ‘escândalos’ de outras Agências, Igrejas, Denominações e Institutos. Você faria o favor analisar e expor da mesma forma e intensidade? Infelizmente, o que tenho visto é tão somente uma perseguição ideológica com prerrogativas apologéticas”, escreveu Ismael Batista.
“Em meio a essa guerra ideológica que está a flor da pele a imparcialidade é quase uma utopia! Como cristãos genuínos temos que clamar pela cosmovisão de Jesus. Queria que o pastor denunciasse os escândalos de ambos os lados. Porque o antipetismo está à flor da pele e por muitas vezes ultrapassando até os princípios que temos como cristãos”, comentou Raphael Vieira Gonçalves.
Recuo
Diante da maciça repercussão das críticas, a Missão Kairós divulgou um comunicado em suas contas nas redes sociais e anunciou que Ariovaldo Ramos, após reunião realizada na sede da entidade, consentiu em iniciar um processo de transição para deixar o cargo.
“No dia 22 de maio de 2019, ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, estiveram reunidos nas dependências da sede da Kairós Associação de Treinamento Transcultural, sito à rua Ângelo de Lúcia, 224, 228, em reunião iniciada às 10h00, o presidente da Kairós e pastores representantes de várias igrejas parceiras da Missão Kairós para discutir a questão institucional da organização.
Foi fala preponderante que, embora, não haja desabono à pessoa do presidente, sua postura pública tem criado uma situação insustentável, no nível da Igreja Local, que ameaça a sustentabilidade necessária para a manutenção dos missionários, ora em campo. Diante disso, foi sugerido ao presidente que desse início à transição no comando da Kairós.
O presidente, ouvida as falas, ponderou que a Kairós é uma agência a serviço da Igreja Local, que, biblicamente, é quem, por ordem do Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, faz a obra missionária, comissionando, enviando e sustentando os missionários e missionárias. Uma vez que houve entendimento de que a postura pública do presidente tem provocado para o cumprimento da missão da Igreja Local, o presidente concordou em dar início à transição do comando da Missão Kairós, com a urgência entendida pelos participantes da reunião.
Outrossim, o presidente abriu, aos pastores presentes, a possibilidade de ultimarem qualquer verificação que queiram fazer.
Sem mais, em comunhão e concordância, irmanados na busca do melhor para a causa missionária, no cumprimento do mandado de ir, como diz o dístico da Kairós, ‘Além de vós, onde Cristo não foi anunciado’. Subscrevemos, no temor do Senhor Jesus Cristo”.
CRÍTICAS DA ORTODOXIA
1) Envolvimento político (apoio ao PT e à esquerda)
Muitos evangélicos conservadores consideram problemático um pastor assumir defesa pública de um partido político (especialmente o PT), vendo nisso risco de “misturar o púlpito com ideologia”.
Alguns acusam de “politizar o Evangelho” ou reduzir a fé a uma visão política progressista.
2) Teologia da Missão Integral
Ariovaldo é um dos maiores defensores no Brasil da chamada Missão Integral, linha que entende a missão cristã como inseparável do compromisso social e político.
Críticos evangélicos mais tradicionais afirmam que isso seria uma espécie de “evangelho social”, que deixaria em segundo plano a salvação individual e a centralidade da cruz.
3) Relação com pautas sociais
Sua defesa de direitos humanos, de políticas sociais inclusivas e de diálogo com movimentos sociais é vista por parte dos evangélicos como “alinhamento ideológico” em detrimento da ortodoxia bíblica.
É comum ser acusado de relativizar alguns temas morais ao priorizar a justiça social.
4) Questão do divórcio
Ariovaldo é divorciado, e em setores evangélicos mais conservadores isso é considerado uma quebra de padrão para o ministério pastoral.
Ainda que muitos aceitem o divórcio em casos específicos (como adultério ou abandono), há grupos que o veem como impedimento definitivo para liderança espiritual.
5) Críticas doutrinárias
Já foi acusado por alguns opositores de diluir doutrinas fundamentais (como a ênfase na salvação pela fé) em favor de um discurso mais político e social.
Alguns classificam sua linha de pensamento como “progressista demais” ou até de “desvio doutrinário”, embora não haja um consenso claro sobre isso.